Doroth: Camilla, fundadora da Doroth, conta sobre sua jornada como CEO em setor majoritariamente masculino

Pensando em  compartilhar a jornada que nossa investida Doroth vem trilhando, convidamos Camilla, fundadora da empresa, para contar um pouco sobre sua jornada como CEO mulher em um setor ainda majoritariamente masculino. A Doroth é uma agtech que realiza monitoramento e quantificação de microrganismos por meio de biologia molecular.

Conte um pouco da sua jornada como CEO da Doroth, biotech que possui tecnologia como grande diferencial no mercado agro. Quais foram as maiores conquistas e desafios passados por você até agora?

Minha história como CEO da Doroth se inicia em 2019, quando tomei coragem e pedi demissão da empresa de implantes dentários suíça (Straumann), onde atuava como coordenadora de medical marketing, fazendo a comunicação entre a área de pesquisa e desenvolvimento e o comercial. Na época, éramos uma empresa com apenas nós 3 sócios e estávamos situados na área de healthcare após termos recebido um fomento de R$1 milhão do pipe fapesp fase 2. A primeira grande conquista como CEO foi entender que a tecnologia que estávamos desenvolvendo seria mais amplamente utilizada, e com menos concorrência, no mercado agro. De lá para cá eu atuei em programas de aceleração como o SEVNA e Braskem Labs, liderei rodadas de investimento anjo e 2 anos depois nossa rodada SEED, agora em 2022. De 2019 até final de 2021 meus principais desafios foram modelagem de negócios, buscando market fit, captação de recursos e principalmente capitaneando a área comercial com grandes clientes B2B, ajudando a equipe técnica a desenvolver produtos e soluções que estivessem orientados às necessidades desses grandes players. Esse ano eu me encontrei em um momento diferente, onde montamos um laboratório de ponta em biotecnologia, aumentamos o nosso time de 4 para 10 pessoas e sempre continuamos a desenvolver novas soluções para o mercado agro. Dessa forma, a fim de trazer à Doroth uma integridade estrutural, busquei me aprofundar na temática de gestão de pessoas, recursos humanos, estratégias processuais, compliance e também em uma forma de traduzir toda tecnologia que desenvolvemos para que novos clientes possam entender nosso potencial e assim incorporar em suas corporações.

Você acredita que o fato de possuir uma CEO mulher colabora para a diversidade no quadro de colaboradores da Doroth, que é 50% feminino? Se sim, como você influencia nesse processo? Qual é sua visão de futuro para a Doroth? 

Hoje, metade do nosso quadro de colaboradores são mulheres. Tenho orgulho em dizer que cada uma das pessoas que trabalham na Doroth foram escolhidas após intenso processo seletivo, alguns com mais de 200 candidatos, e cada uma delas mereceu sua oportunidade de estar junto conosco, assim como nós com elas. Entretanto, é crucial entender que o processo seletivo hoje, como ele é desenhado, não favorece as mulheres. Nossas vagas são muito técnicas, não à toa 80% do nosso time tem doutorado ou pós doutorado. Identificamos que homens tendem a ser mais convincentes e seguros de si durante as entrevistas e tentamos anular esse favorecimento através de perguntas menos especulativas e mais objetivas. Se você pedir para um homem, durante uma entrevista, dizer algumas conquistas profissionais você verá que eles acabam trazendo relatos com mais ânimo e engajamento no discurso, o que cativa naturalmente o entrevistador e desfavorece as mulheres que, em linhas gerais ainda recebem menos feedbacks positivos em suas carreiras e infelizmente acabam não valorizando suas conquistas. Então, essa é a minha forma atualmente de influenciar esse processo a favor da diversidade. Mas vale ressaltar que ainda temos que avançar bastante no processo e objetivação para que ele seja totalmente inclusivo, pensando também em outras classes menos privilegiadas. Como comentei, temos uma demanda muito técnica e por isso, acredito que quando começarmos de fato a expandir as contratações para cargos administrativos e operacionais, aí sim, conseguiremos abranger bem o leque da diversidade.   

Qual é sua visão de futuro para a Doroth? 

Sempre me relacionei com abordagens preventivas por toda minha formação, como, por exemplo, durante meu doutorado em que cheguei a ser premiada. Tive a oportunidade de fazer um externship em Harvard e desenvolvi um dispositivo que identifica a lesão de cárie inicial, quando ainda é muito difícil de identificar a olho nú até mesmo para profissionais dentistas. O propósito de técnicas preventivas é de se agir rapidamente e evitar maiores danos como grandes restaurações, tratamentos de canal ou até mesmo a extração e perda do elemento dentário. Estes reconhecimentos prévios são de suma importância para otimização de tomada de decisão e redução de gastos e danos permanentes. E assim como diante de um pequeno microbioma que é a cavidade oral, tenho a mesma visão muito clara, acreditando que o futuro das fazendas (grandes e complexos microbiomas) é se tornarem cada vez mais monitoradas e integradas, para que os gestores possam destinar seus recursos de forma sábia com o objetivo de aumentar a produtividade, reduzir insumos e transcender para um manejo mais consciente e sustentável. Não tenho dúvidas de que com os clientes que estamos trabalhando em apenas 1 ano de operação, a Doroth se tornará a maior empresa de monitoramento biológico desse setor nos próximos anos, fornecerá dispositivos de baixo custo, altamente precisos e conectados a internet, armazenando todos os dados obtidos. Isso só será possível, pois nossa tecnologia de lab-on-a-chip, integrados aos nossos dispositivos IoT, conseguem detectar e quantificar microrganismos, organismos e no futuro até mesmo insetos em escala de DNA, identificando em tempo real se aquele alvo possui resistência a algum tipo de antibiótico ou defensivo químico por exemplo, muito antes de surgirem as primeiras sintomáticas na planta ou em animais. A biologia está sempre em constante evolução e nossa tecnologia estará lá com a missão de antever para entender.

Deixe um recado para as atuais e futuras participantes do ecossistema de startups.

Empreender é transformar potencial em cinética. A física é uma das ciências mais fascinantes por conseguir materializar ideias em fórmulas extremamente exatas e elegantes. Empreender é isso: a busca por uma fórmula capaz de transformar um problema em uma solução comercial. Quanto mais a fórmula for exata, mais próximo do sucesso você estará. Porém, não devemos nos iludir, pois a história mostra que quase nenhuma fórmula foi derivada logo de cara. Houve diversas equações anteriores que buscaram responder à aqueles problemas, muitas funcionavam parcialmente e ajudavam os próximos cientistas a chegarem mais perto e realizarem mais aperfeiçoamentos. Tenham paciência e tolerância na hora de iniciar seus empreendimentos, busquem sócias(os) que sejam complementares e fiéis, que sejam obcecadas por resolver problemas e não pela solução! E divirtam-se, pois o caminho deve ser sabiamente apreciado até que se chegue no destino ;)

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